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As Geladeiras de Antigamente

O apartamento que eu morava antes, tinha um problema que era motivo de quebra-pau homérico em reunião de condomínio: as cozinhas não tinham ralo para escoar a água, conseqüentemente, não podiam ser lavadas. Uma das moradoras, querida dona-de-casa amiga, resolveu jogar água em tudo como um desafio ao status quo do prédio. Resultado: a água escoou para o poço do elevador, queimando os seus componentes e causando um prejuízo de arrepiar os cabelos de qualquer síndico e de todos os moradores pagantes. Faz muito tempo que eu não jogo água na cozinha com direito ao sabão em pó e tudo, e fiquei me lembrando de como era o dia de lavar a cozinha quando eu era criança. Toda semana a cozinha era lavada, e quando a geladeira era descongelada então, a faxina na cozinha se alongava. Era quase um ritual, era preciso desligar a geladeira na véspera, tirar todos os alimentos, limpar as prateleiras cuidadosamente e escoar toda aquela água com pedaços de gelo por horas a fio. Além da faxina, o almoço era qualquer coisa e só era possível tomar água quente o dia inteiro. No final da tarde, lá estava a geladeira organizada, brilhando, o freezer antes abarrotado de tanto gelo, aparecia limpinho e arrumado. Hoje, com as geladeiras "frost free", este trabalho foi suprimido, mas a lentidão do tempo e a dedicação para estas coisas menores também. Constantemente eu vejo pessoas que entregam seus trabalhos se desculpando, se eu tivesse mais tempo teria feito melhor, a pressa não me deixou terminar como eu queria, etc. A vida corrida, a pressa para tudo e o acúmulo de funções virou desculpa para a mediocridade de tudo que fazemos.Tudo agora parece ser justificado pela pressa, ou melhor, pela nossa incapacidade de compatibilizar nossas atividades com as 24 horas de duração do dia. De vez em quando é bom repensar se não ter mais que ficar esperando o gelo derreter é tanta vantagem assim...

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O Dono do Shopping

Sair de uma cidade grande e violenta como o Rio de Janeiro para morar no litoral nordestino muda (e muito!) a nossa perspectiva sobre as coisas. Não adianta dizer que a gente acostuma,quando muito, a gente desacelera e termina quase baiano... Palavras como prazos, projetos, competitividade, ação, não fazem parte do vocabulário local (que acaba tendo um lado positivo). Aqui todo mundo sabe quem é o dono do maior shopping da cidade e onde ele mora. A filha dele fez quinze anos e toda a cidade comentou os preparativos para a festa. Dizem que as excursões para conhecer os pontos turísticos da cidade incluem uma passagem pela casa do dono do shopping. Mais provinciano, impossível... Pois bem, o dito cujo (que se chama Roberto Santiago para quem quiser saber) está fazendo uma super reforma no seu shopping e como ele conhece todo mundo e não está nem aí para ninguém, a reforma é feita de forma a infernizar o maior tempo possível os clientes. As vagas do estacionamento foram reduzidas, passagens interrompidas, cobertura semi-aberta para a chuva e o sol e o máximo que o cara permite, é uma placa "Estamos trabalhando para aumentar o seu conforto (e o nosso lucro, é claro). Dias desses, na véspera de uma data importante no calendário consumista, o shopping literalmente parou devido ao foda-se no planejamento estratégico das obras. Um cliente, com cara de poucos amigos, parou o carro bem na entrada, desceu injuriado, e entrou no shopping espumando, abandonando o carro do lado de fora de qualquer jeito. Eu estava esperando a chuva passar para ir buscar meu carro e pude ver quando o segurança, ao ver o cara abandonar o carro daquele jeito, foi atrás e abordou o sujeito: - Meu senhor, não pode deixar o carro ali não! Pois o homem respondeu em alto e bom som: -Pois mande o doutor Roberto Santiago ir tomar no cu, entendeu? Tomar no cu! E seguiu em frente enquanto o segurança e todos ao redor ficavam de boca aberta. Eu não aguentei e saí andando às gargalhadas, me perguntando como seria se os cariocas soubessem quem são os donos dos shoppings da cidade.

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O que não é amor

Quando alguém se comporta de forma inadequada, agressiva e violenta em nome do amor, costumamos a ouvir explicações do tipo "amor doentio", "amor obsessivo" etc e tal. Não acredito nesta combinação amor + violência, isso não existe. A motivação para agredir ou matar alguém, nunca será o amor, podemos chamar de qualquer outra coisa, posse, esquizofrenia, despeito, rejeição, inveja, ciúme, mas nunca de amor, mesmo quando acompanhado de uma justificativa como doentio. O fato é que quando justificamos estes atos em nome do amor, estamos justificando todos os outros: homens que espancam suas companheiras, que perseguem suas ex-mulheres, e toda a sorte de violência contra a mulher que estamos combatendo nos dias de hoje. A associação com a beleza feminina então, só piora as coisas. Fica parecendo que a mulher por ser bonita e sedutora atrai para si todas as desgraças do mundo. Assim já era na idade média, com as mulheres raptadas por sua beleza ou queimadas na fogueira como bruxas, e sempre é bom considerar o mito de Helena de Tróia. Sim, porque se a beleza justifica a tragédia e as agressões, justificaria também a violência sexual. Homens que espancam, seqüestram e assassinam supostamente em nome do amor, são criminosos como qualquer outro e não merecem tolerância nem perdão.

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Um dia de cão tupiniquim?

A história da adolescente Julieta mantida em cativeiro por seu Romeu inconformado e violento, está rendendo mais do que devia e merecia. A Polícia Militar de Santo André diz que está psicologicamente abalada, decorridas mais de 90 horas do seqüestro. Em um lance de genialidade bestial, devolveram ao cativeiro a refém que havia sido libertada! Alôuuuu, alguém entendeu direito? Devolveram a moça de 15 anos, que havia sido libertada para as mãos do transloucado seqüestrador. Para negociar, segundo a polícia. Bom, considerando que um dos oficiais afirmou que não aguenta mais a pressão, podemos supor que enviaram a menina (bem mais qualificada) já que eles estão sem condições emocionais de trabalhar. Se a menina conseguir dobrar o romeu enlouquecido, deveria pedir ao Serra os salários de todos os oficiais envolvidos mais uma bonificação do Estado por serviços prestados. Aí "seu poliça", leva a mal não, mas abalado psicologicamente está o cidadão...

Alice no País das Maravilhas

Ontem foi dia de ir ao salão para a manicure, esta pequena futilidade feminina que ainda persiste através das décadas. Eu ainda me justifico por uma exigência profissional, mas só me permito este luxo a cada quinze dias. O tempo, a grana e a paciência não possibilitam visitas mais freqüentes ao salão de beleza. Durante a prestação de serviços, eu aproveito para folhear as revistas e sempre me surpreendo com o gasto absurdo de papel para escrever tanta bobagem. Ontem me dei conta da mensagem subliminar destas revistas de fofocas. Em cada reportagem (???) está implícito que aquelas pessoas são perfeitas, maravilhosas, podres de ricas com o mundo aos seus pés, enquanto você não é absolutamente nada... A artista global casada com um homem com a metade de sua idade, vai toda serelepe passear no Havaí, porque o marido insistiu, da mesma forma que insistiu para que ela usasse biquini e não maiô, como também insiste para que façam compras descontroladamente. Aliás, esse é um aspecto de todos os famosos, são consumidores compulsivos! Mas o que no meu universo, no seu, no nosso, é um defeito, neste estranho mundo de celebridades é uma qualidade inestimável, tanto quanto tomar sopa instantânea na xícara. Outra celebridade passeia em Nova York com o seu septuagésimo nono namorado nos últimos três anos. Na minha vida normal, na sua, na nossa, esse comportamento seria tachado como galinhagem generalizada e explicíta. Mas no mundo das celebridades, descobrimos rapidamente que é uma qualidade, pois ela está em busca de sua alma gêmea, então tome a dar por aí a torto e à direito...Ah, sim, ela está na Big Apple para passear (levou um tênis especial para isso), visitar museus e conhecer novos restaurantes. E por assim vai, com fotografias de casas enormes e deslumbrantes (quando a casa da celebridade não está à altura da revista, ela é fotografada na casa de campo, no castelo ou no espaço vip da revista).Ttodos se divertem em festas fantásticas, com paisagens divinas e compras, muitas compras. Ninguém tem problemas e a infelicidade, as separações, a doença e o sofrimento em geral, são curados com visitas ao shopping para mais... compras! E entre talheres, carros, iates e roupas de cama, está você, pensando na louça na pia, no que fazer para o almoço, entre outras preocupações insignificantes. Aí você se lembra que tem filhos, um amor que já dura um certo tempo (ao contrário dos famosos), que seu irmão te ligou há pouco para falar abobrinhas e avisar que mamãe vai fazer uma super feijoada no domingão para todo mundo.E nessa vida real, sem nenhum glamour, é que encontramos a tal de felicidade...

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