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Tempo

Estou dando um tempo aqui no blog e escrevendo no A Vida é um Fio por enquanto. Preciso digerir os últimos acontecimentos e colocar a minha vida no prumo novamente. Escrever me ajuda a entender melhor o meu cotidiano e me possibilita estruturar melhor os próximos passos. Passe por lá!

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Uma Tia Muito Brava

A minha tia Maria é a irmã mais velha da minha mãe, em uma família com quatro filhos homens e três mulheres. Faz muito tempo que não a vejo, mas a minha lembrança mais forte é que ela era muito brava. Uma fera! A minha mãe foi criada por ela e sempre nos ameaçava dizendo que nunca fez uma malcriação, que não podia ser respondona, que apanhou muito etc e tal. Minha mãe contou que uma vez estava lavando a louça e a minha tia chamou a atenção dela por algum coisa. Minha mãe deu os ombros como um gesto de pouco caso e tia Maria simplesmente arremessou uma panela na cabeça dela. Um dos filhos dela quebrou a clavícula depois de uma surra com o fio de engomar (não sei nem o que é isso, mas deve doer muito). Quando o filho mais novo casou com a namorada grávida, minha tia (que era costureira) fez o vestido. Certa de que o branco estava fora de questão, já que a noiva não era virgem, ela não se contentou com um tom marfim ou rosa. Ela fez um vestido azul-marinho! Lembro de ter perguntado como podia uma noiva não vestir branco, enquanto os adultos constrangidos tentavam disfarçar. Cruel, essa minha tia... O que mais me surpreende ao analisar os fatos do passado, é que a família inteira a respeitava. Buscavam nela aprovação e conselhos, como se nenhum dos seus gestos fosse questionável. Faz uns quinze anos que não a vejo, mas ela continua sendo um exemplo para mim. Um belo exemplo do que eu jamais gostaria de ser!

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Cuide bem do seu amor

Eu me casei aos 20 anos e me separei aos 32, completamente destroçada depois de anos vivendo um relacionamento péssimo. Com duas filhas e muito trabalho para dar conta, não pensava em me casar novamente. Nunca! Jamais! Aos 34, fui participar de uma reunião de trabalho nos cafundós do nordeste (lá mesmo onde o vento faz a curva três vezes). Pois foi justamente naquela terra de ninguém - uma realidade aumentada de sucupira - que conheci o meu amor. Esqueçam perfil, tipo de homem, posição sócio-econômica ou beleza física. Quem é agraciado com o verdadeiro "raio" que os italianos conhecem bem, sabe que nada disso faz diferença. Conheci meu amor no dia 30 de junho de 2002 e desde então não nos desgrudamos mais. Larguei tudo, casa, trabalho, a cidade maravilhosa, e vim morar no nordeste com o meu amor. Insanidade temporária, eu poderia alegar, mas ele chamava de "pular da ponte" para viver a vida (não é coincidência que As Pontes de Madison seja um dos meus filmes favoritos). Vivemos uma vida boa, apesar da torcida contra dos nossos inimigos (ô, e como se arruma inimigos quando se decide viver um grande amor). Tivemos uma filha que hoje está com cinco anos, apesar dos indicativos médicos que eu não poderia mais engravidar. No último dia 30 de junho, exatamente oito anos depois de nos conhecermos, meu amor me deixou, vítima de uma crise hipertensiva. Penso nos nossos planos, em tudo o que vivemos e sempre penso que eu poderia ter sido mais tolerante, mais compreensiva, ter um gênio melhor... É patético, porque nada do que eu possa pensar em ter sido, faz qualquer diferença agora. Quando nada faz sentido, só posso dizer uma coisa: cuide bem do seu amor, todo tipo de amor (amigos, filhos, marido, esposas, namorados).

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A Justiça e a Lei

Eu sempre fico bastante decepcionada com o papel que o judiciário desempenha em nossa sociedade, seja pelos atrasos intermináveis nos processos ou pela condução árbitraria da lei. Por isso mesmo, fiquei bastante surpresa com a decisão de uma juíza em Curitiba, favorável ao homem que ia perder a sua casa no leilão da Caixa Econômica Federal por não ter quitado a dívida. O homem deixou o emprego e gastou tudo o que tinha para procurar um diagnóstico e a cura para a doença do seu filho (gangliosidose GN1 tipo 2, que impede a reprodução de neurônios que degeneram). A juíza sensibilizada com a situação, conseguiu que a verba do fundo pecuniário da justiça fosse utilizada para quitar a casa. O pai cuida sozinho do filho, ajuda duas outras crianças com a mesma doença, é voluntário na escola onde o filho estuda e tem uma pequena oficina mecânica em casa para conciliar o trabalho com os cuidados que o rapaz exige. A juíza espera que a decisão sirva de precedente para que as instituições financeiras possam perdoar dívidas em casos excepcionais como esse. Um belo exemplo de que fazer justiça nem sempre significa somente aplicar a lei.

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A Lógica Capitalista

Há alguns anos atrás eu e meu marido fomos ao banco reclamar de alguma coisa que nem me lembro mais o que era. Argumentamos que éramos excelentes correntistas, pois em quinze anos como clientes do banco nunca tínhamos passado um cheque sem fundo, feito um empréstimo ou usado o cheque especial. Impassível, o gerente ouviu os nossos argumentos e disparou: - Pois é, por isso mesmo vocês são péssimos clientes, o banco não ganha um centavo com vocês! Saímos de lá atarantados e compreendemos, finalmente, que a lógica capitalista funciona ao reverso do bom modelo de cidadania. Um bom cidadão para o sistema é aquele que consome muito, fica endividado e recorre ainda mais ao sistema financeiro, de preferência pelo resto da vida. Tem um filme bobo no qual o chefe não promove uma funcionária porque ela não "precisa do emprego". Ele cita dois exemplos: fulano tem três filhos e precisa trabalhar e beltrano acabou de comprar uma mercedes. Eles dariam o sangue pelo emprego, mas você não tem nada, família, marido, bens... É um pouco assim que funciona a lógica do consumismo, você só pode ser feliz se seguir o padrão de comercial de margarina e o que as revistas femininas pregam. Tenha uma super casa para dar inveja aos seus amigos e familiares, não para ter conforto e segurança. Compre um carro pelo mesmo motivo e des-fi-le com ele pelas ruas, esnobando o seu sucesso sobre os outros. Medimos o sucesso ou o fracasso das pessoas não pelas suas credenciais humanitárias ou intelectuais, mas sim pelo que elas posssuem. A garagem de um prédio é um bom exemplo disso, sabemos quais são os vizinhos abastados e os que são pobres coitados. Ostentar é mais importante do que ter que é muito mais essencial do que ser.Tenha a bolsa certa, mesmo que ela custe meses de salário de alguém, seja independente e ousada (para conseguir um bom marido), tenha filhos, mas fique em forma, faça plástica, faça dieta, compre muito mais do que precisa e talvez, somente então, você consiga ser feliz! Felizmente, já faz um certo tempo que descobri que um par da sapatos Manolo Blahnik não ia mesmo mudar a minha vida...

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Para quem gosta de super-heróis

A Lola escreveu sobre o filme Homem de Ferro 2 e, mesmo concordando com todas as críticas, confesso que gostei do filme. O que mais me agradou foi o cinismo intenso em todas as situações: o vilão é um cretino vendedor de armas, o antagonista é um físico brilhante debochado e malvadão (russo, é lógico!) e o governo americano querendo roubar o equipamento usando os seus políticos é uma hipocrisia sem fim. Tony Stark (Robert Downey Jr) faz o filme todo valer a pena, a cena no senado é um espetáculo de inteligência e humor. Em alguns momentos o roteiro fica solto, vários exageros acontecem, mas vejo o filme como uma grande piada crítica sobre a venda de armas e a guerra. Não gostei do papel das mulheres no filme - Pepper Potts, feita por Gwyneth Paltrow e Scarlett Johansson, a viúva negra - as duas parecem deslocadas, sem ter muito o que fazer. Elas não acrescentam nada, mas também não atrapalham. O romance do herói com Potts não é explorado a não ser no beijo sem graça já no final do filme. Outro furo imperdoável foi a invenção de um kit armadura claramente inspirado em Transformes, mas nada foi pior do que a substituição do ator Terrence Howard do primeiro filme por Don Cheadle (ambos atuaram em Crash no Limite). Dizem que ele foi demitido por questões salariais, o que duvido muito porque os caras assinam contratos para as continuações desde o primeiro. Seja como for, se eles pensaram que a troca ia passar despercebida, se deram mal porque quem viu o primeiro identifica logo a substituição. O que é interessante no filme é que queremos ver o herói como uma pessoa comum, ele é tão interessante como um ser humano do que quando se monta todo e sai voando. Fora tudo isso e mais alguma coisa que a Lola comentou, é um filme para distrair mesmo, não é para pensar muito.

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O tempo não cura, apenas ameniza...

A sabedoria popular diz que o tempo cura tudo, mas é apenas uma tentativa de nos confortar em momentos de profundo desespero. Perdi o meu baba há quase seis anos, mas ainda passo por momentos de profunda tristeza que podem ser desencadeados por inúmeras razões: um carro igual ao dele, uma pessoa parecida, um filme lançado que ele gostaria de ver etc. No prédio em que eu morava, as pessoas viviam se confundindo com a numeração dos andares. Era muito comum um estranho abrir a porta e ir entrando até se dar conta que estava no apartamento errado. Uns seis meses depois da morte do meu pai, eu estava na cozinha quando a porta se abriu e vi de relance o vulto de um homem com as mesmas características físicas dele. Até a camisa polo era igual! Fiquei estática sem saber o que pensar, até que o homem percebeu o engano e se virou para pedir desculpas. Depois que ele saiu fiquei sentada no banquinho da cozinha chorando copiosamente. Não que eu pensasse que ele iria voltar, é claro, mas sabe aqueles segundos de esperança? Eu já me via dizendo: - Nossa todo mundo pensou que você tinha morrido, imagina quando eles souberem que você está aqui! Não existe lógica, o fantástico costuma operar a pleno vapor quando nos conscientizamos que nunca mais veremos aquela pessoa outra vez. A mente humana não lida muito bem com conceitos como sempre, nunca, infinito etc. O fato é que o desespero da perda com o tempo é o mesmo, a saudade não diminui, só aumenta, e seguimos em frente porque precisamos, não porque queremos. Seria mais honesto dizer que os momentos de desesperos serão menos frequentes e mais suaves, mas enquanto houver memória e amor, eles não desaparecerão!

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Depende do que vem depois...


Não é muito fácil manter a racionalidade diante das cenas da polícia batendo em professor por duas razões: sou professora, filha de professora e minha mãe também apanhou da polícia no Rio de Janeiro, na década de 80. A foto que está bombando na blogosfera mostra um sujeito (que todos pensavam ser um professor), carregando uma policial ferida durante o protesto de professores em São Paulo. Mais tarde, foi divulgado que o sujeito é um policial à paisana, infiltrado no protesto. Bom, sabe aquela história, depende do que vem depois? Diante de um fato novo, o fazendeiro filosoficamente dizia: pode ser bom, pode ser ruim, depende do que vem depois. Pois é, ela se aplica muito bem ao caso. Diante das fotos que mostravam um professor (aparentemente) carregando um policial ferido, todos se comoveram e apontaram a imagem como uma expressão da falta de bom senso de todo o confronto. Pode ser bom, pode ser ruim. Depende do que vem depois. A Polícia Militar de São Paulo para provar que professor é tudo raça e nenhum deles é bonzinho, lança um comunicado afirmando que o dito cujo era um policial à paisana. Pode ser bom? Depende do que vem depois. Perplexos, os blogueiros não entendem como um policial pode ter barba e concluem que ele é um infiltrado P2, como nos áureos tempos da ditadura. Pode ser bom? Depende do que vem depois. A polícia tenta explicar e se enrola mais ainda, afirmando que o sujeito é marido de uma professora e estava no evento para apoiar o protesto. Pode ser bom? Pode. Serra deve perder a eleição!

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Parto natural é um direito, não uma imposição

Já vou começar a postagem afirmando que compreendo perfeitamente que o parto normal ou natural é a melhor opção para a mulher e para o bebê, estou ciente que a recuperação é mais rápida, e que muitas cesarianas são realizadas desnecessariamente. Não pretendo chover no molhado, mas gostaria de palpitar sobre o outro lado da questão, a ansiedade e angústia que muitas mulheres são submetidas por causa da pressão por um parto normal, de preferência, sem anestésicos. É justamente aqui que começo a ficar cabreira, como mulher e como mãe, já que não entendo nada da parte médica. Por incrível que pareça, toda grávida será bombardeada por um volume absurdo de informações contraditórias. Já fiquei grávida três vezes, e não teve uma em que eu não encontrasse algum conhecido que me descrevesse uma história dramática na qual a mãe e o filho morressem no final. Nos últimos anos, temos que acrescentar ao rosário de conselhos e tragédias, os olhares reprovadores de quem não conseguiu ter um filho de parto normal. Lembro de um trabalho científico que afirmava que os nascidos através do parto cesariana tornavam-se indolentes enquanto os nascidos através do parto normal eram ativos e empreendedores (???). A mensagem é que você é uma mãe fracassada se teve um filho através do parto cesariana, ou se teve um filho de parto normal, mas pediu uma peridural, é uma fraca. O bacana é ter o filho dentro de uma banheira, sem "drogas" ou qualquer tipo de ajuda. Respeito muito quem faz isso, uma grande amiga teve os seus filhos assim e a considero uma pessoa corajosa e forte. Mas isso não significa que eu seja uma incompetente molóide por ter feito cesarianas. Não tenho culpa se tenho um quadro de pré-eclâmpsia, como muitas outras mulheres tem complicações que as impedem de ter filhos com parto normal. Toda mulher deve ter direito ao parto natural, mas também deve ter o direito de escolher tomar anestesia sem se sentir pressionada ou angustiada por isso. Tenho a impressão que o sistema sempre se apropria das reivindicações de forma distorcida, como o alojamento conjunto que virou uma excelente desculpa para não se contratar mais enfermeiras para o berçário. Impor o parto sem anestésicos ou qualquer outro apoio, me parece uma boa alternativa para diminuir os custos. Ouvi uma história de que na rede pública dos municípios pobres, a anestesia no parto normal não é uma opção. Um enfermeiro disse a seguinte frase: "se elas já tem um filho atrás do outro sentindo dor, imagine se tomarem anestesia!" Ou seja, nada mais machista voltar ao pecado original no qual as "Evas" estão condenadas a parir com dor!

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Coisas da imprensa


É isso que dá não combinar a mentira antes: segundo a coluna da Patrícia Kogut, no Jornal o Globo, a ex-BBB Priscila Pires substituiu o ex-BBB Diego Alemão no programa A Eliminação, porque foi "convidada por ele". Porém, em outro grande jornal, o próprio afirma que "não sabe porque foi substituído", embora desconfie que tenha alguma relação com os comentários grosseiros que fez sobre Elenita, após a entrevista. O pior é que o cara nem percebe que foi estúpido também durante a entrevista, fazendo um gesto de nojo diante de uma tentativa de aproximação física da entrevistada. Mas é isso que acontece quando se coloca alguém para fingir que é jornalista, quando se finge que publica notícia no jornal, quando se pensa que é blogueiro, e por aí vai...

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Surfing Dolphins

Cresci assistindo ao seriado Flipper, um golfinho inteligente e safo que ajudava uma típica família americana. As pessoas acham os golfinhos fofos e engraçados por causa das suas piruetas e som peculiar que emitem, como se estivessem conversando. Por causa disso, muitos viraram atração em parques aquáticos e tenho muitas dúvidas se os golfinhos são realmente felizes no cativeiro.Os cientistas dizem que eles são muito inteligentes (depois do homem, são os animais mais inteligentes), apresentam uma organização familiar e parecem ter um tipo de linguagem. Costumam ajudar pescadores, salvam pessoas e são os inimigos número um dos grandes tubarões. No filme Procurando Nemo os tubarões fazem troça dos golfinhos, afirmando que "peixes são amigos e não comida, menos os golfinhos fedorentos que se acham o máximo!". Todas essas informações enciclopédicas não nos preparam para o espetáculo dos golfinhos surfistas da África do Sul. Fotografados e filmados durante seis anos por Greg Huglim, o material será lançado este ano. A dúvida de todos é se os golfinhos realmente sabem que estão surfando (oh, perguntas humanas estúpidas!). Ao ser perguntado sobre isso, Huglim afirmou: - Se sabem que estão surfando eu não sei, mas tenho certeza que estão se divertindo muito!


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Crianças devem ser usadas como "iscas"?

A tecnologia moderna propiciou aos empregadores, sócios, maridos enciumados, detetives e até mesmo pais, a possibilidade de flagrar e registrar atitudes suspeitas ou criminosas (taí o Arruda que não me deixa mentir). Porém, nada me incomoda tanto quanto o depoimento dos pais que desconfiam dos maus tratos aos seus filhos. Todos eles, sem exceção, alegam que desconfiaram da pessoa que cuidava de seus filhos por diversos motivos: o comportamento da criança estava alterado, marcas pelo corpo, comentário dos vizinhos etc. Ou seja, ao instalar a tal câmera de segurança, os pais já tinham certeza absoluta de que seus filhos estavam sendo maltratados, só precisavam da prova. O que eu acho estranho é alguém deixar uma criança indefesa, muitas vezes bebezinhos, com uma pessoa que se suspeita estar maltratando-a. Para ter a tal prova, sujeitamos crianças aos tapas, beliscões, sopapos e talvez até surras. Parece uma espécie de "isca" tal e qual vemos nos filmes americanos, quando a mocinha é colocada na frente do bandidão para que a polícia consiga as provas para prender o meliante. Não consigo entender uma decisão deste tipo, eu jamais deixaria meus filhos um minuto sequer com alguém que eu suspeitasse de maus tratos. Mas isso tudo ainda é pouco, durante a semana foi publicada a notícia que professores maltratavam as crianças em uma creche paulista. Após a denúncia dos funcionários, a escola instalou câmeras de segurança durante vinte dias (haja sofrimento para os pequenos) para flagrar o comportamento das loucas. É claro que sempre se pode alegar que se não fossem gravadas, essas pessoas poderiam se safar e maltratar outras crianças, mas não seria menos penoso acompanhar as imagens e intervir no momento de uma agressão? E se uma das agressões machucasse seriamente uma das crianças? Teria valido a pena? Continuo pensando que nada justifica colocar crianças em risco quando se tem consciência do perigo. Pode até funcionar e ser possível prender os agressores, mas nada vai apagar os danos físicos e psicológicos destas crianças. Nem mesmo o processo criminal contra os agressores.

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Mulheres Negras Formadoras de Opinião (nos EUA)

A vencedora de melhor atriz coadjuvante no Golden Globe foi a apresentadora de talk show, atriz e comediante, Mo'Nique. O filme que rendeu o prêmio foi Preciosa, uma história deprimente sobre uma adolescente negra maltratada pelos pais. O filme é produzido pela Oprah, um fenômeno da mídia americana. O sucesso de Mo'Nique (e do filme Preciosa) me fez pensar no papel das mulheres negras na mídia americana. Tanto a Oprah quanto a Mo'Nique (mantendo as devidas proporções) são mulheres negras, líderes de audiência com seus programas e formadoras de opinião. Elas orquestram com uma força esmagadora o pensamento e o comportamento de milhares de mulheres americanas. O surpreendente? A maior parte das mulheres que assistem aos programas são brancas! É só olhar o público que participa efusivamente do programa da Oprah. A maior parte das mulheres que estão na platéia ou sentadas no sofá, são brancas. É importante ressaltar que os programas tratam de coisas simples do cotidiano das mulheres: casamento, divórcio, filhos, dívidas etc. As duas tem uma origem humilde, batalharam e conseguiram um sucesso estrondoso. No Brasil, o quadro é inverso. As nossas apresentadoras são loiras, brancas e pertencem ao quadro da classe média ou da elite brasileira. Ana Maria Braga foi casada com um milionário tempos atrás e Hebe Camargo já faz parte das gracinhas do Maluf faz tempo. Elas estão o tempo todo preocupadas em dar lição de moral para o seu público e poderiam ser representantes de qualquer movimento W.A.S.P (movimento conservador dos brancos americanos protestantes) sem medo se ser feliz. Este quadro indica duas coisas: a sociedade americana e mais complexa e flexível do que eu pensava e a classe média brasileira é tão conservadora e elitista que beira o ridículo.

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A Duquesa: qualquer semelhança não é mera coincidência

Quando um relacionamento dá errado, seja um casamento ou um namorico, é comum fazermos uma reflexão sobre as razões do fracasso. Nesse momento, a palavra "se", também conhecida como sinônimo de inutilidade, bate recordes de uso. Se tivesse feito assim ou assado, se tivesse percebido, enfim, nos atormentamos durante horas com a maldita palavra de duas letras. É sempre interessante trocar experiências com outras mulheres, avaliar melhor os equívocos e ter a certeza que não somos as únicas mulheres na face da Terra que nos enganamos. Quando eu assisti o filme A Duquesa fiquei incomodada com a história daquela mulher tão rica e glamurosa, invejada por todos. É um filme triste, que traz uma violência sutil e opressora que parece pertencer à outra época. Quando o filme terminou eu fiz uma pesquisa na Internet sobre a vida de Georgiana, a Duquesa de Devonshire e descobri que entre as suas descendentes mais ilustres estão a Princesa Diana e Sarah Ferguson, Duquesa de York. Fiquei surpresa, não pelo parentesco, mas porque as duas mulheres descendentes de Georgiana tiveram um destino igual ou pior. Com exemplos dentro da própria família, porque nenhuma das duas teve o bom senso de pensar que poderia acontecer a mesma coisa com elas? A semelhança é impressionante, Georgiana teve que entregar a sua filha gerada fora do casamento por imposição do marido (embora tenha cuidado da filha ilegítima dele como se fosse sua). Uma das acusações feitas oficialmente pelo pai do Dodi Al Fayed (não é somente uma fofoca ou maluquice) afirma que a Diana estava grávida e por isso foi assassinada pelo serviço secreto inglês. Pelo visto, ela não teve a alternativa de se esconder no interior para dar à luz escondida dos olhos do mundo. Fergie escapou de um destino trágico, mas vive agora enclausurada e seguindo orientações expressas da família real depois de ter esbanjado fortunas e falido (a Duquesa Georgiana também morreu afundada em dívidas de jogo apesar da fortuna da família). Na minha família, os exemplos negativos e positivos são repetidos à exaustão para que nenhum de nós possa alegar mais tarde que não sabia que ia dar errado. Vai desistir de estudar? Olha o tio João que acabou como jardineiro da prefeitura de São Fidélis. Quer beber? Não esqueça do primo Pedro, beberrão que morreu com o fígado estourado. Será que ninguém contava as tragédias familiares para as duas? O que me impressiona é que em pleno século XX, a situação das mulheres da aristocracia inglesa são tão limitadas quanto a vida de Georgiana no século XVIII! Não são mulheres poderosas, são propriedades de homens poderosos e isso faz muita diferença...

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Por que o casal Brangelina incomoda tanto?

Não fique entediado, este post não é sobre fofocas de celebridades, o buraco é bem mais embaixo. A notícia vinha de um jornal sério: Brad Pitt está considerando filmar com a ex Jennifer Aniston, as negociações já estão adiantadas, embora a atual esposa não veja o trabalho com bons olhos. Achei interessante porque a notícia não estava em um tablóide de fofocas, mas sim na primeira página de um jornal que, supostamente, tem coisas mais importantes para se preocupar. Ao ler a matéria, acabei lembrando de várias outras notícias na mesma linha: Brad Pitt se encontrou com a ex em Nova York para reclamar do seu casamento, Angelina expulsou Brad Pitt de casa, Brad Pitt diz que Angelina não ama sua filha biológica como os outros filhos, etc e tal. Teve uma que eu vi, ninguém me contou, George Clooney afirmando não entender porque Brad Pitt largou uma mulher maravilhosa para ir cuidar dos órfãos de Jolie. Fiquei me perguntando, por que a mídia não gosta do relacionamento dos dois? Por que existe uma torcida declarada para que dê errado? Talvez a resposta esteja no fato do casal adotar crianças de países pobres, ter optado por ter a primeira filha biológica na África, ser o casal que mais faz doações para a caridade nos EUA e não incentivar o consumo desenfreado dos filhos. Isso é notório, enquanto Suri Cruise desfila com roupas de grife e a mãe gasta 40 0000 dólares para enfeitá-la, a filha do casal Brangelina aparece vestida como criança. Pelo visto, isso é crime inafiançável no mundo das celebridades. Dentro da lógica de consumo capitalista (e os valores que são repetidos até a exaustão pela mídia), ter uma família multiracial, estar preocupado com os miseráveis no mundo e jogar dinheiro fora com caridade, não é muito recomendável... Um bom capitalista só dá dinheiro para a caridade quando se sente ameaçado pelos miseráveis. Aqui na minha cidade tem um shopping ao lado de uma favela e o dono do shopping pratica o assistencialismo com os pobres para evitar que eles incomodem a sua clientela. Não existe a possibilidade de ser rico e famoso sem ser consumista, arrogante e egocêntrico. O fato do casal não viver dentro de uma bolha como fazem outras celebridades, incomoda sim, e muito. É como um desafio ao status quo, o sistema permite que a celebridade se envolva com drogas, sexo, decadências em geral porque isso dá ibope, mas ser socialmente responsável, nem pensar! É uma praga pior do que o comunismo. Pior ainda é o passado de Angelina, drogas, casamento conturbado, briga com o pai, lesbianismo. Imagina só, trocar a perfeita Aniston por uma destruidora de lares! Se não der errado, as engrenagens da mídia e da sociedade estarão em risco. Só tem um detalhe: mesmo que o casamento dos dois acabe amanhã, o tempo que passaram juntos e as suas ações já melhoraram um pouco o mundo...Sorry, bitch!

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