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Dejá Vu...

Existem coisas na vida do carioca que só quem mora há muitos anos na cidade consegue compreender. A violência na noite carioca, por exemplo. Volta e meia, quase sempre, acontece alguma briga nas boates ou nos bares. Houve um período que foi um verdadeiro inferno com os pitboys arruaceiros criando caso quase todas as noites. Eu mesma conheço duas amigas que tiveram seus filhos envolvidos em brigas. Isso acontece há mais de dez anos. A polêmica essa semana é por causa da morte de um rapaz de 18 anos, assassinado pelo segurança do filho de uma promotora. Neste momento, a personalidade do carioca caracterizada pelo "hay gobierno, soy contra!"- vem à tona. É fato que não gostamos mesmo destas autoridades (juízes, PM's, promotores, etc.). Quem já precisou estacionar no centro do Rio, em frente ao tribunal sabe do que estou falando. Mal você encosta o carro, aparece um segurança do tamanho de um armário mandando o motorista sair dali porque "é reservado para as autoridades". Ué, se pergunta o incauto, mas a rua não é pública? Não, não é, descobrimos rapidamente...O que me incomoda nesta história toda, é que não existe algozes nem anjos como querem mostrar. Os dois lados estavam errados, e, existe sim, uma vítima e um assassino que deve ser punido. Mas daí a execrar a mãe da criatura, porque é promotora, porque tem um filho mauricinho, por ter nascido, é outra coisa. A mulher está sobre proteção policial porque está ameaçada de morte por Fernandinho Beira-Mar! Bem... mesmo considerando que todo carioca é ameaçado de morte em qualquer sinal, todos os dias, não dá para desconsiderar isso não. Teve um jornalista que chegou a escrever que ela sabia do risco e não fez mais do que a obrigação! Fiquei com vontade de perguntar se os jornalistas que foram torturados ou mortos pelos traficantes quando estavam trabalhando também não sabiam do risco que corriam...Se o filho é um babaca, azar o dele, se o policial errou e assassinou uma pessoa, cadeia nele! Agora, agredir a mulher porque o filho estava de madrugada na boate (ué, o outro também não estava?), parece histeria coletiva. E se o filho da promotora tivesse sido assassinado a pancadas, como já aconteceu antes, estaríamos consolando a promotora e gritando por justiça contra os algozes? Parece um pouco com o absurdo do vovô Nardoni, referindo-se à neta o tempo todo como a "criança" e mobilizando a família toda para proteger o filho. Isso sim, merece repúdio e não vi até agora a imprensa se manifestando com a mesma agressividade. Mas isso já é história para outro post.

1 bom ouvinte:

Juliana Freitas disse...

Não tá nada fácil morar aqui... mas o que mais me choca nessas discussões é que tratam um caso ou outro com sombrancelhas cerradas e entonação diferente na voz, ou no escrever... Até parece que não morrem muitos assassinados por dia aqui, até parece que é caso isolado. Discussões como essa, sobre o PM ser segurança do filho da promotora, não fazem o menor sentido. Até faria, se não tivéssemos mais quem enterrar, mas numa cidade onde se morre e se mata aos montes, fazer um sensacionalismo desses é patético.

E vamo que vamo, pelo menos até o dia que a gente vai dar de cara com a nossa bala-perdida gêmea. =/

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