Pages

0

As aparências sempre enganam

Já faz um tempinho que eu queria escrever sobre a foto que compara as roupas e o "estilo" de Suri Cruise (filha do Tom Cruise e da Katie Holmes) e Shiloh Pitt (filha de Brad Pitt e Angelina Jolie). O tom da manchete da revista me deixou chocada porque se trata de uma questão machista disfarçada de um olhar fashion. Com a história de aluna que foi humilhada por causa da saia curta, o assunto voltou a martelar na minha cabeça. Vamos por partes: porque a Suri é considerada a queridinha da moda e faz a festa dos fotógrafos? Porque escolhe as próprias roupas, como afirmou a mãe? Rá, eu tenho uma filha de quatro anos que também escolhe as roupas, mas o resultado é beeeem diferente. O pais estão querendo nos convencer de que a menina tem um dom de escolher marcas famosas e combinações fashionistas? Ninguém fica chocado quando vê uma menina de três anos usando saltos altos? Agora, o outro lado da moeda: porque as roupas despojadas de Shiloh causam tanto desgosto nos jornalistas? Porque até onde eu entendo, ela é uma criança, e crianças sempre vão optar por roupas confortáveis ou roupas que lembram uma fantasia de qualquer coisa. O pior é a insinuação de que uma é doce, frágil e meiga e a outra masculinizada e desleixada. Qual é a semelhança com a aluna agredida na Universidade? Bom, o recado está claro, vista-se do jeito que as pessoas esperam, sair do padrão é correr riscos. A moça errou ao usar o vestido curto? Sem dúvida, mas não por ter atraído a violência, mas sim por ter subestimado a cretinice dos seus colegas. Ela estava jogando com as cartas que nos orientam diariamente, seja através da reportagem enaltecendo a Suri Cruise ou na revista Nova com os seus decotes de arrasar ou cabelão para seduzir. Talvez ela não tenha compreendido o que o sistema insiste em nos dizer, mas vamos reconhecer que é tudo muito confuso. A velha história da dama na sala e puta na cama é de enojar, mas nada parece ter mudado desde então. Quando eu estava na Universidade (pública, diga-se de passagem) eu usava camisetas sem sutiã. A comissão de frente avantajada sempre chamava a atenção, até que um dia um professor renomado, doutor, apalpou os meus peitos no corredor! Sem cerimônia, sem clima, sem qualquer preâmbulo sexual. Obviamente que eu fiquei chocada com o gesto, mas mais chocada ainda eu fiquei quando contei para os colegas mais próximos. Uma delas disse que a culpa era minha por andar sem sutiã mostrando os peitos por aí. Reparem só, foi uma mulher que fez o comentário, e não os homens. E quer saber? Eu vesti a carapuça e nunca mais usei este tipo de roupa naquele espaço. Isso aconteceu há mais de vinte e cinco anos, e eu queria acreditar que a sociedade mudou para melhor.Afinal, temos a lei Maria da Penha e o debate sobre as questões de gênero vem progredindo bastante. Infelizmente, ao ler manchetes como essa e assistir ao vídeo da aluna sendo agredida, começo a pensar que estou muito enganada...

0 bom ouvinte:

Back to Top