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Memórias do Coração

Ultimamente eu tenho tantas lembranças de coisas que aconteceram em minha vida que ando até preocupada. Fico pensando se vou morrer logo, porque qualquer coisa é suficiente para acionar uma lembrança antiga. Pode ser um cheiro, um som, uma referência, só sei que de repente vejo uma cena antiga direto do túnel do tempo. Nestas últimas semanas tem sido pior, mas acho que é por causa das festas de fim de ano, quando sempre lembramos daquelas tias velhas empoeiradas e esquecidas na hierarquia afetiva. Ontem eu assisti um filme lindinho, O Som do Coração. Embora seja uma história quase mágica, eu fiquei impressionada porque me lembrou um caso que uma amiga psicóloga me contou há bastante tempo. Um menino afirmou durante a terapia que tinha pesadelos constantes onde se via deitado no chão de um local com azulejos brancos na parede e muito sujo. O menino nunca contou para os pais sobre esse sonho, e ao conversar com eles sobre o tratamento do menino, a mãe começou a chorar, contando que o menino havia sido adotado e foi encontrado por ela com dois dias de vida abandonado em um banheiro público. Ou seja, os sonhos do menino nada mais eram do que uma lembrança real de quando ele tinha dois dias de vida! É uma história parecida com o mistério das pessoas que fazem transplante e dizem ter lembranças do doador. No filme, o menino passa toda a sua vida no orfanato porque tem certeza que seus pais o queriam muito e vão encontrá-lo através da música. Nem mesmo o agente tutelar acredita nele, mas ao longo da história vários fatos vão revelando a ligação especial entre ele e seus pais. É interessante porque o talento especial do menino para a música poderia ser explicado cientificamente pela genética, já que os pais são grandes músicos. Porém, nunca atentamos para outras formas de conexão que podemos ter com as pessoas, independentes do que é real ou não. Eu tive algumas conexões deste tipo na minha vida, mas não acredito que tenha valorizado estes momentos como deveria...Também já aconteceu o contrário, quando eu tive certeza do quanto era especial um determinado relacionamento, a outra parte agiu de forma desinteressada. Assim, para tudo dar certo, todas as forças tem que atuar de forma conjunta e harmônica, caso contrário, perdemos as oportunidades de encontros definitivos em nossas vidas.de qualquer forma, são reflexões sobre a esperança que existem em cada um de nós que é intensificada com as festas de fim de ano. Para não ficar fora do contexto, desejo a todos que passam por aqui um fim de ano com renovação de todos os sonhos e esperança por um futuro melhor para nós!

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Sobre as Pontes de Madison

O filme As Pontes de Madison é mais do que uma bela história, é um filme que fala sobre as nossas escolhas e as eternas lutas internas que carregamos junto conosco para o resto de nossa vida: e se fosse diferente? Se tivesse dado certo, se eu tivesse sorrido, se não... Ninguém pode saber ao certo como seria se os caminhos escolhidos fossem outros, mas a possibilidade de escolher faz nossa imaginação correr solta durante algum tempo.Basicamente conta a história de um casal, ela uma dona-de-casa e um fotógrafo que viajou até a cidadezinha que ela vive para tirar fotos das famosas pontes de Madison. É um casal maduro, a relação deles é contada através de palavras, olhares, desejos, mas é tão delicado e impactante...Mesmo quem nunca foi casado acaba de perguntando ao final sobre suas escolhas em todos os relacionamentos. Há algumas semanas atrás conheci um homem casado muito interessante e apesar de nenhuma palavra suspeita ter sido dita,era evidente o clima de atração no ar. Não estou falando de flertes óbvios ou armação, estou me referindo exatamente ao contrário, quando a atração física existe e as duas partes, por inúmeras razões, reprimem e disfarçam ao máximo o que estão sentindo e a história morre por aí. Em alguns momentos esta situação é tão intensa que até as pessoas próximas percebem, porque não conseguimos evitar de olhar para os lábios do outro, as mãos não param quietas, qualquer piada é motivo de risadinhas nervosas, enfim, todo aquele ritual prévio que passamos várias vezes ao longo da vida. Só que neste caso, já sabemos de antemão que não vai dar em nada, diferente de quando estamos livres e solteiros e já nos imaginamos casados com três filhos... Aliás, isto é fato, nós mulheres pensamos mesmo nisso e não como uma visão romântica ou como estratégia de fisgar marido. Penso que é simplesmente uma verificação se o provável parceiro cabe em um quadro de convivência possível, caso alguma coisa abomine esta possibilidade, já descartamos logo. Não é um ensaio romântico, é estratégia de sobrevivência genética da espécie. Já saí com indivíduos que ao final da noite eu só podia pensar que não existiria nenhuma possibilidade de enquadrar a figura em nenhum contexto familiar ou com os amigos. Depois de classificado como diversão only, a coisa vai esfriando até que acaba... No caso deste homem em especial, tudo que fica depois de um encontro desses é a imaginação, o pensamento igual ao final do filme, o que aconteceria se eu fosse ao seu encontro? Toda a minha vida mudaria num instante? Nós seríamos felizes? Nossa paixão seria insaciável? Envelheceríamos juntos? Muitas vezes nada disso resiste ao próximo encontro, mas em alguns casos carregamos para sempre a lembrança de algo que poderia ter sido. É a eterna dúvida do "se", que alguém já afirmou ser uma palavra de duas letras que é sinônimo de inutilidade. Só ajuda o tempo a passar pensando besteiras...

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