Pages

0

O Mundo dos Outros

Ao navegar pelos principais jornais e sintetizar as falas de determinadas "personagens" do cotidiano, acabo com a impressão de que eu vivo em uma dimensão paralela, completamente distante dos donos do discurso. Vamos lá, o pessoal do Big Brother (que eu não assisto, mas acabo lendo as notícias) adoram usar expressões como amizade, meu melhor amigo, conto com você, confiança, etc e tal, como se o objetivo principal (ganhar um milhão de reais e se tornar famoso) fosse esquecido completamente depois de entrar na casa. Todos se tornam amigos de infância, namorados com juras de amor eterno e até mesmo filhos/mães dos colegas participantes. É mesmo muito estranho... Mas no quesito estranheza, ninguém supera a nossa querida rainha dos baixinhos! Orgamos múltiplos e dormir sem calcinha é pouco se comparado ao "ver duendes puxando as cobertas"... O problema não são os duendes, eu tenho um amigo muito sério que garante já ter vistos duendes. Na floresta, de madrugada e não embaixo da cama na mansão cor-de-rosa. Além do mais, eu duvido que ele afirmasse tal coisa em cadeia nacional... A viúva "tô ótima partindo para outra" Suzana Vieira mostra o seu novo namorado trocentos anos mais novo, como se nada tivesse acontecido ou aprendido. Deve pensar que nossos olhos e ouvidos são mesmo penico para aguentar mais uma xaropada. Para encerrar o festival de absurdos, as pessoas dizem que a prisão da dona da Daslu foi um exagero e uma crueldade. Exagero porque? Porque ela não poderia continuar sonegando impostos? Por que a tintura e a escova do cabelo seria comprometida? Por que ela tem pouco tempo de vida e não vai poder mais sonegar? É isso? Sim, porque todo mundo adora dar exemplos de funcionamento da sociedade do primeiro mundo, e ao que me consta, Martha Stewart foi presa nos EUA pelo mesmo motivo, e o Ronald Biggs não teve a cadeia aliviada na Inglaterra apesar da doença e da idade avançada. É muito estranho que nosso senso de justiça seja vinculado ao poder econômico e o poder social do réu. Uma pessoa que comete o crime sendo semi-analfabeta e miserável deveria ter muito mais complacência da justiça do que alguém com dinheiro e posição social. O pobre ignorante sempre pode justificar sua falta de caráter à dureza da vida, mas os políticos, empresários, juízes e socialites que cometem crimes, só tem uma desculpa: é mau-caráter mesmo!

Ratatouille

Uma reportagem da Folha de São Paulo intitulada "Restaurante aposta na lembrança emotiva para atrair clientes", afirma que mesmo com toda a sofisticação dos pratos oferecidos por diversos restaurantes de São Paulo, alguns deles passaram a movimentar a gastronomia apostando em receitas simples.Em entrevista à repórter Marina Fuentes, a chef do restaurante Anita, Fabiana Caffaro, fala também sobre a ideia de disponibilizar um menu caseiro aos clientes. "O conceito aqui é fazer a comida de família, que todos conhecem. Tudo o que sirvo é o que eu gosto de comer", afirma. Segundo a chef, um dos "sentimentos" que contribuiu para o sucesso do restaurante é a saudade. "Estimulamos a memória afetiva dos clientes. Todo mundo já comeu, por exemplo, um frango com creme de milho preparado pela mãe ou pela avó." Fabiana ainda diz que, antes, as pessoas precisavam recorrer aos botecos para encontrar comidas simples. Não sou chef, mas me parece que esta questão é meio paradoxal, porque se é comida caseira, como pode ser feita em restaurante? Quero dizer, essa história de tempero caseiro, comida igual a da vovó, me parece algo do tipo "aqui nós enganamos você imitando a comida caseira". É mais ou menos como dizer que comida congelada tem sabor de comida feita na hora, ou então que o miojo tem o sabor legítimo de uma macarronada... Todo mundo sabe que não é verdade. São coisas diferentes não dá para misturar as bolas. Será mesmo que as pessoas comem no pé sujo porque querem lembrar da comida da mamãe? Porque além do PF, o pé sujo também vende bolinhos gordurosos, sardinha frita, entre outras comidas que não fazem parte de nenhum menu familiar. Mas o que eu acho irritante mesmo, é a cara das figuras afirmando que o "conceito" do restaurante é de resgatar a memória afetiva das pessoas, como se fosse uma idéia original e inovadora. Quem assistiu o desenho Ratatouille sabe que este é o grande gancho do filme, já que é a estratégia usada pelo ratinho para dobrar um exigente crítico gastronômico. Daí o título do filme, uma piada com a palavra rato, que é o cozinheiro e um prato simples, chamado no filme de "comida de camponês", o tal do ratatouille, uma receita de legumes como abobrinha, berinjela e tomates ao forno. Só para completar, eu nunca comi frango com creme de milho, o que mostra que as memórias afetivas da comida feita pela mãe ou avó podem variar bastante...

Back to Top