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Tempo

Estou dando um tempo aqui no blog e escrevendo no A Vida é um Fio por enquanto. Preciso digerir os últimos acontecimentos e colocar a minha vida no prumo novamente. Escrever me ajuda a entender melhor o meu cotidiano e me possibilita estruturar melhor os próximos passos. Passe por lá!

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Uma Tia Muito Brava

A minha tia Maria é a irmã mais velha da minha mãe, em uma família com quatro filhos homens e três mulheres. Faz muito tempo que não a vejo, mas a minha lembrança mais forte é que ela era muito brava. Uma fera! A minha mãe foi criada por ela e sempre nos ameaçava dizendo que nunca fez uma malcriação, que não podia ser respondona, que apanhou muito etc e tal. Minha mãe contou que uma vez estava lavando a louça e a minha tia chamou a atenção dela por algum coisa. Minha mãe deu os ombros como um gesto de pouco caso e tia Maria simplesmente arremessou uma panela na cabeça dela. Um dos filhos dela quebrou a clavícula depois de uma surra com o fio de engomar (não sei nem o que é isso, mas deve doer muito). Quando o filho mais novo casou com a namorada grávida, minha tia (que era costureira) fez o vestido. Certa de que o branco estava fora de questão, já que a noiva não era virgem, ela não se contentou com um tom marfim ou rosa. Ela fez um vestido azul-marinho! Lembro de ter perguntado como podia uma noiva não vestir branco, enquanto os adultos constrangidos tentavam disfarçar. Cruel, essa minha tia... O que mais me surpreende ao analisar os fatos do passado, é que a família inteira a respeitava. Buscavam nela aprovação e conselhos, como se nenhum dos seus gestos fosse questionável. Faz uns quinze anos que não a vejo, mas ela continua sendo um exemplo para mim. Um belo exemplo do que eu jamais gostaria de ser!

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Cuide bem do seu amor

Eu me casei aos 20 anos e me separei aos 32, completamente destroçada depois de anos vivendo um relacionamento péssimo. Com duas filhas e muito trabalho para dar conta, não pensava em me casar novamente. Nunca! Jamais! Aos 34, fui participar de uma reunião de trabalho nos cafundós do nordeste (lá mesmo onde o vento faz a curva três vezes). Pois foi justamente naquela terra de ninguém - uma realidade aumentada de sucupira - que conheci o meu amor. Esqueçam perfil, tipo de homem, posição sócio-econômica ou beleza física. Quem é agraciado com o verdadeiro "raio" que os italianos conhecem bem, sabe que nada disso faz diferença. Conheci meu amor no dia 30 de junho de 2002 e desde então não nos desgrudamos mais. Larguei tudo, casa, trabalho, a cidade maravilhosa, e vim morar no nordeste com o meu amor. Insanidade temporária, eu poderia alegar, mas ele chamava de "pular da ponte" para viver a vida (não é coincidência que As Pontes de Madison seja um dos meus filmes favoritos). Vivemos uma vida boa, apesar da torcida contra dos nossos inimigos (ô, e como se arruma inimigos quando se decide viver um grande amor). Tivemos uma filha que hoje está com cinco anos, apesar dos indicativos médicos que eu não poderia mais engravidar. No último dia 30 de junho, exatamente oito anos depois de nos conhecermos, meu amor me deixou, vítima de uma crise hipertensiva. Penso nos nossos planos, em tudo o que vivemos e sempre penso que eu poderia ter sido mais tolerante, mais compreensiva, ter um gênio melhor... É patético, porque nada do que eu possa pensar em ter sido, faz qualquer diferença agora. Quando nada faz sentido, só posso dizer uma coisa: cuide bem do seu amor, todo tipo de amor (amigos, filhos, marido, esposas, namorados).

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A Justiça e a Lei

Eu sempre fico bastante decepcionada com o papel que o judiciário desempenha em nossa sociedade, seja pelos atrasos intermináveis nos processos ou pela condução árbitraria da lei. Por isso mesmo, fiquei bastante surpresa com a decisão de uma juíza em Curitiba, favorável ao homem que ia perder a sua casa no leilão da Caixa Econômica Federal por não ter quitado a dívida. O homem deixou o emprego e gastou tudo o que tinha para procurar um diagnóstico e a cura para a doença do seu filho (gangliosidose GN1 tipo 2, que impede a reprodução de neurônios que degeneram). A juíza sensibilizada com a situação, conseguiu que a verba do fundo pecuniário da justiça fosse utilizada para quitar a casa. O pai cuida sozinho do filho, ajuda duas outras crianças com a mesma doença, é voluntário na escola onde o filho estuda e tem uma pequena oficina mecânica em casa para conciliar o trabalho com os cuidados que o rapaz exige. A juíza espera que a decisão sirva de precedente para que as instituições financeiras possam perdoar dívidas em casos excepcionais como esse. Um belo exemplo de que fazer justiça nem sempre significa somente aplicar a lei.

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A Lógica Capitalista

Há alguns anos atrás eu e meu marido fomos ao banco reclamar de alguma coisa que nem me lembro mais o que era. Argumentamos que éramos excelentes correntistas, pois em quinze anos como clientes do banco nunca tínhamos passado um cheque sem fundo, feito um empréstimo ou usado o cheque especial. Impassível, o gerente ouviu os nossos argumentos e disparou: - Pois é, por isso mesmo vocês são péssimos clientes, o banco não ganha um centavo com vocês! Saímos de lá atarantados e compreendemos, finalmente, que a lógica capitalista funciona ao reverso do bom modelo de cidadania. Um bom cidadão para o sistema é aquele que consome muito, fica endividado e recorre ainda mais ao sistema financeiro, de preferência pelo resto da vida. Tem um filme bobo no qual o chefe não promove uma funcionária porque ela não "precisa do emprego". Ele cita dois exemplos: fulano tem três filhos e precisa trabalhar e beltrano acabou de comprar uma mercedes. Eles dariam o sangue pelo emprego, mas você não tem nada, família, marido, bens... É um pouco assim que funciona a lógica do consumismo, você só pode ser feliz se seguir o padrão de comercial de margarina e o que as revistas femininas pregam. Tenha uma super casa para dar inveja aos seus amigos e familiares, não para ter conforto e segurança. Compre um carro pelo mesmo motivo e des-fi-le com ele pelas ruas, esnobando o seu sucesso sobre os outros. Medimos o sucesso ou o fracasso das pessoas não pelas suas credenciais humanitárias ou intelectuais, mas sim pelo que elas posssuem. A garagem de um prédio é um bom exemplo disso, sabemos quais são os vizinhos abastados e os que são pobres coitados. Ostentar é mais importante do que ter que é muito mais essencial do que ser.Tenha a bolsa certa, mesmo que ela custe meses de salário de alguém, seja independente e ousada (para conseguir um bom marido), tenha filhos, mas fique em forma, faça plástica, faça dieta, compre muito mais do que precisa e talvez, somente então, você consiga ser feliz! Felizmente, já faz um certo tempo que descobri que um par da sapatos Manolo Blahnik não ia mesmo mudar a minha vida...

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Para quem gosta de super-heróis

A Lola escreveu sobre o filme Homem de Ferro 2 e, mesmo concordando com todas as críticas, confesso que gostei do filme. O que mais me agradou foi o cinismo intenso em todas as situações: o vilão é um cretino vendedor de armas, o antagonista é um físico brilhante debochado e malvadão (russo, é lógico!) e o governo americano querendo roubar o equipamento usando os seus políticos é uma hipocrisia sem fim. Tony Stark (Robert Downey Jr) faz o filme todo valer a pena, a cena no senado é um espetáculo de inteligência e humor. Em alguns momentos o roteiro fica solto, vários exageros acontecem, mas vejo o filme como uma grande piada crítica sobre a venda de armas e a guerra. Não gostei do papel das mulheres no filme - Pepper Potts, feita por Gwyneth Paltrow e Scarlett Johansson, a viúva negra - as duas parecem deslocadas, sem ter muito o que fazer. Elas não acrescentam nada, mas também não atrapalham. O romance do herói com Potts não é explorado a não ser no beijo sem graça já no final do filme. Outro furo imperdoável foi a invenção de um kit armadura claramente inspirado em Transformes, mas nada foi pior do que a substituição do ator Terrence Howard do primeiro filme por Don Cheadle (ambos atuaram em Crash no Limite). Dizem que ele foi demitido por questões salariais, o que duvido muito porque os caras assinam contratos para as continuações desde o primeiro. Seja como for, se eles pensaram que a troca ia passar despercebida, se deram mal porque quem viu o primeiro identifica logo a substituição. O que é interessante no filme é que queremos ver o herói como uma pessoa comum, ele é tão interessante como um ser humano do que quando se monta todo e sai voando. Fora tudo isso e mais alguma coisa que a Lola comentou, é um filme para distrair mesmo, não é para pensar muito.

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O tempo não cura, apenas ameniza...

A sabedoria popular diz que o tempo cura tudo, mas é apenas uma tentativa de nos confortar em momentos de profundo desespero. Perdi o meu baba há quase seis anos, mas ainda passo por momentos de profunda tristeza que podem ser desencadeados por inúmeras razões: um carro igual ao dele, uma pessoa parecida, um filme lançado que ele gostaria de ver etc. No prédio em que eu morava, as pessoas viviam se confundindo com a numeração dos andares. Era muito comum um estranho abrir a porta e ir entrando até se dar conta que estava no apartamento errado. Uns seis meses depois da morte do meu pai, eu estava na cozinha quando a porta se abriu e vi de relance o vulto de um homem com as mesmas características físicas dele. Até a camisa polo era igual! Fiquei estática sem saber o que pensar, até que o homem percebeu o engano e se virou para pedir desculpas. Depois que ele saiu fiquei sentada no banquinho da cozinha chorando copiosamente. Não que eu pensasse que ele iria voltar, é claro, mas sabe aqueles segundos de esperança? Eu já me via dizendo: - Nossa todo mundo pensou que você tinha morrido, imagina quando eles souberem que você está aqui! Não existe lógica, o fantástico costuma operar a pleno vapor quando nos conscientizamos que nunca mais veremos aquela pessoa outra vez. A mente humana não lida muito bem com conceitos como sempre, nunca, infinito etc. O fato é que o desespero da perda com o tempo é o mesmo, a saudade não diminui, só aumenta, e seguimos em frente porque precisamos, não porque queremos. Seria mais honesto dizer que os momentos de desesperos serão menos frequentes e mais suaves, mas enquanto houver memória e amor, eles não desaparecerão!

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